segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Primeiro turista espacial português também quer "mergulhar" em hotel subaquático

Mário Ferreira revela não querer morrer sem ir à Lua

Mário Ferreira entre o ar e a água: primeiro o espaço, depois o fundo do mar e, finalmente, a Lua

O empresário Mário Ferreira queria ser piloto de helicópteros quando era pequeno. Agora é dono da «Helitours» e tem piloto próprio para além de ser proprietário da operadora turística «Douro Azul». Tem ainda um projecto representante da Virgin Galatic – do empreendedor multimilionário britânico Sir Richard Branson que se distinguiu nos últimos 20 anos, nomeadamente no transporte aéreo de passageiros com a Virgin Airways – e constituiu aquela que será a primeira empresa de Turismo Espacial em Portugal. A «Caminho das Estrelas, SA» é o nome da agência, pioneira no nosso País. Em breve (previsto para Março ou Abril), sem data marcada devido a burocracias e testes de preparação, Mário Ferreira vai ser o primeiro português a passar férias no espaço. Não se considera um excêntrico, mas a sua próxima excentricidade será uma semana num resort subaquático. Para além da experiência, pretende essencialmente satisfazer o seu hobbie – a fotografia.

Ciência Hoje - A oferta da agência de viagens a bordo da nave Virgin Galactic vai desde os voos suborbitais aos de gravidade zero, visitas ao Kennedy Space Center e aos laboratórios onde a NASA está a finalizar os módulos que vão futuramente para a Estação Espacial. Que tipos de experiências podem encontrar os turistas espaciais em cada uma destas opções?

Mário Ferreira - Temos diversas opções dedicadas ao tema, que é sempre o mesmo, o espaço. A «Caminho das Estrelas, SA» é a primeira empresa especializada em turismo espacial que faz voos suborbitais – a grande atracção. Nem toda a gente consegue chegar lá pelo custo que ainda têm, embora os valores vão baixar bastante, mas 200 mil dólares [152,293 euros] é um preço relativamente elevado para o mercado português. A «Caminho das Estrelas» tem vindo a especializar-se nas áreas que estão directamente ligadas ao espaço sem, no entanto, ir ao espaço. Está relacionada com a preparação e com experiências, como no caso das visitas ao Kennedy Space Center, que oferecem a possibilidade de experimentar tudo ligado ao espaço. Os voos de gravidade zero são interessantes e relativamente desconhecidos em Portugal, porque só há três aviões no mundo que o fazem: um na Rússia, outro na França, mas está direccionado para as universidades, e este que é muito virado para o turismo e para pessoas que podem não ter nada a ver com o treino espacial e onde, aliás, o Tom Hanks fez as gravações para o filme «Apollo 13». Existe um outro pilar deste negócio, os brinquedos espaciais (Space Toys), com réplicas das naves, space shuttles, fotografias de astronautas que estiveram na lua, com dedicatórias originais. A empresa está também atenta a novos programas e temas ligados ao espaço, estamos em negociações com outros e queremos ser os primeiros a representar estes voos em Portugal.

C.H. - Considera que há mercado para o turismo espacial em Portugal mesmo numa época de crise?

M.F. - É um nicho de mercado muito específico mas há mercado. No ano passado vendemos quatro viagens já totalmente pagas a portugueses – o que foi acima das nossas expectativas. Este ano, temos imensas pessoas interessadas, agora a única dúvida existente prende-se com o facto de que as que estão dispostas a comprar quererem ver primeiro a nave a voar. Assim que a nave começar a voar os pedidos vão disparar.

C.H. - Quantos interessados apareceram este ano?

M.F. - Temos já seis interessados, mas não ganhavam nada por estar a pagar, porque querem primeiro ver o funcionamento.

C.H. - Qual é o valor da opção mais modesta?

M.F. - Quem quiser fazer um voo de gravidade zero gastará 3 mil euros, não é mais do que isso.

C.H. - E o pacote completo?

M.F. - As pessoas podem gastar desde 500 euros por uma visita ao Kennedy Space Center como podem pagar 200 mil dólares na viagem ao espaço.

C.H. - Esta é apenas uma opção para os excêntricos?

M.F. - Não! Acho que é uma opção relativamente cara para o nosso poder de compra, mas se considerarmos o tamanho do sonho que se realiza ao ir até ao espaço é um preço muito modesto, tendo em conta os preços que seriam pagos nos dias de hoje. Estamos a falar de 20 milhões de dólares [15,233,244 euros], ou seja, um por cento dos montantes que têm sido pagos.

C.H. - Considera-se um excêntrico?

M.F. - Não! Tenho os pés assentes na terra e conheço a tecnologia que está por detrás, estudo bastante e acompanho bastante o que está a ser feito e acredito que vai ser bastante agradável.

C.H. - Tem medo de que alguma coisa possa correr mal?

M.F. - Não. Para já ainda não. E se alguma coisa correr mal não vai ser comigo, porque ainda vão fazer muitos testes. Obviamente que, como tudo na vida, acarreta riscos, como ao andar de carro e podermos ter um acidente…

C.H. - Disse em entrevista que é um apaixonado por “coisas diferentes e originais”. Depois de uma ida às estrelas, se o céu não é o limite, qual será a sua próxima extravagância?

M.F. - Nesta altura, o meu grande objectivo é não morrer sem ir à Lua ou a um daqueles resorts que estarão disponíveis lá e pode ser que venha a acontecer.

C.H. - Há alguma coisa que não tenha feito e que gostasse de concretizar?

M.F. - Cá na Terra, não. Sinto-me bastante satisfeito. Agora, bem… Estou à espera de que abra o próximo hotel subaquático, porque um dos meus hobbies é tirar fotografias subaquáticas e adorava ficar num hotel debaixo de água. Vai abrir um nas Bahamas, outro no Dubai e estou à espera de lá ficar uma semana.

C.H. - O que queria ser quando era pequeno?

M.F. - Piloto de helicópteros.

C.H. - Por isso abriu o Helitours?

M.F. - Sim. Acabei por tirar o curso de piloto de helicópteros para aprender a voar e foi uma coisa que me agradou bastante, mas felizmente não preciso de voar porque tenho um piloto.

C.H. - Que tipo de cuidados requer a viagem (alimentação, estado físico ou psicológico, etc.)?

M.F. - Os testes médicos são bastantes exigentes. Em termos de densiometria, audição, de problemas de claustrofobia a problemas comuns e simples, mas que poderão ser multiplicados quando a pessoa se encontra no espaço. O corpo vai ser submetido a forças muito intensas. Estamos a falar de um arranque de cinco mil quilómetros por hora. É muita força e o corpo deve estar bem preparado para aguentar. Já fizemos testes, sabemos até onde é que podemos ir e algumas pessoas, infelizmente, ficaram pelo caminho por não conseguirem passar os testes todos, como alguns dos nossos fundadores.

C.H. - Quais são as principais restrições?

M.F. - Prendem-se esssencialmente com o facto de não entrar em pânico quando estamos a ser submetidos ao “Gs”, especialmente no regresso, porque a pressão é muito forte e pode criar algumas dificuldades respiratórias. Temos de respirar confortavelmente e ter pequenos espaços de ar, porque o ar estará comprimido. As pessoas têm de treinar estes aspectos e embora não tenham outras condições físicas ou médicas que os impossibilite, se não tiverem controlo psicológico não podem ir.

C.H. - A viagem dura quanto tempo?

M.F. - A viagem é muito rápida. É uma tarde, porque no espaço, em termos de gravidade zero, estaremos uns dez minutos.

C.H. - Que tipo de indumentária exige?

M.F. - Temos um fato especial que está ser desenvolvido e em termos de exigência precisamos de levar capacete, mas a capacidade da nave é tão bem feita que nem devia ser preciso. A agência que dá licenciamento pediu que se levasse. Vamos ver…

C.H. - Quais são as condições de segurança?

M.F. - São todas aquelas que estão a ser testadas. Não posso falar de nenhuma em concreto. A mais evidente é o facto de ser uma nave toda construída em carbono e ter um casco duplo, ou seja, tem uma caixa-de-ar com isolamento e se, por qualquer motivo, um objecto perfurasse a nave ficaria o isolamento. E como é feita em carbono não terá o problema de aquecimento que têm as space shuttles na reentrada e no posicionamento do ângulo correcto, dadas as placas fractárias.

C.H. -Requer algum tipo de alimentação especial?

M.F. - Obviamente que nos primeiros cinco dias antes da viagem haverá treinos específicos de habituação ao formato da cabine e a alimentação tem de ser controlada, especialmente pelas pressões a que vamos ser submetidos e temos de ter cuidado porque são quatro horas e a nave não tem casa-de-banho. Ainda não sei ao certo o que vai ser, mas as refeições estão pré-preparadas, porque quando fiz o voo de gravidade zero, no dia anterior, tive de comer o que davam, sempre servido lá e com produtos escolhidos por eles. A alimentação é controlada. Não é nada de diferente, apenas coisas pouco elaboradas, com poucos molhos, legumes…

C.H. - Sei contudo que este tipo de viagem tem efeitos no meio ambiente e que estão a ser tomadas medidas para evitar impactos negativos. Que tipo de tecnologia ou medidas estão a ser tomadas para salvaguardar o meio ambiente?

M.F. - Tem muito poucos impactos negativos no meio ambiente porque o combustível é amigo do ambiente, é natural. O rocket é apenas látex, borracha natural, num cilindro perfurado onde apenas passará gás hilariante, ou seja, não é tóxico, apenas nos poderá fazer rir. Não há resíduos.

C.H. - Pretende algum tipo de promoção publicitária com a viagem?

M.F. - Tem. Ou seja, tem vários apoios. A SIC e a Visão terão o exclusivo da viagem, mas a Taylor’s (empresa de vinho do Porto) pretende fazer uma experiência com uma garrafa de vinho Vintage. Vamos levá-la e trazê-la de volta para ver se se altera com a ausência de gravidade no espaço. Quando voltarmos, faremos uma prova para ver se existem alterações químicas ou no sabor.

Fonte: Ciência Hoje (Portugal)

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