terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Passagem comprada no Brasil custa mais, diz Anac

Bilhete internacional adquirido no país pode custar até 66% mais que no exterior

Agência tenta implantar proposta de liberalização gradual das tarifas em voos para o exterior; sindicato das empresas contesta

JANAINA LAGE
DENISE MENCHEN
DA SUCURSAL DO RIO


Um levantamento realizado pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) mostra que a compra de bilhetes para o exterior pode custar até 66% mais no Brasil do que se a passagem fosse comprada no exterior. O percurso São Paulo-Nova York-SP pela American Airlines custa US$ 972 no Brasil. Já o bilhete Nova York-SP-Nova York sai por US$ 584, de acordo com a coleta que inclui exemplos também de TAM, Air France e British Airways.

A pesquisa faz parte dos estudos técnicos elaborados pela agência sobre liberdade tarifária. Estava previsto para o dia 1º de janeiro o início de um processo de flexibilização de tarifas que resultaria na liberdade total de preços a partir de 2010.

O Snea (Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias) questionou na Justiça o fato de a agência não ter realizado uma audiência pública, e o início das promoções foi suspenso. Três empresas aéreas já estavam com descontos prontos para serem aplicados no início deste ano, mas foram forçadas a engavetá-los.

Para Paulo Bittencourt Sampaio, consultor em aviação, as empresas temem a adoção do padrão internacional de preços no país. "Essa diferença de preços é antiga e representa o protecionismo da empresa nacional. Vale mais a pena comprar lá fora. O brasileiro é um prejudicado na hora de viajar de avião", afirma.

Atualmente, o preço dos bilhetes vendidos no Brasil respeita um piso definido pela Anac para cada destino. Um voo de ida e volta para os EUA, por exemplo, deve custar no mínimo US$ 708. O voo SP-Miami-SP custa US$ 1.118 pela TAM. O percurso Miami-SP-Miami sai por US$ 750 na mesma companhia.

Segundo Marcelo Guaranys, diretor da Anac, as empresas brasileiras já têm vantagens na competição com as estrangeiras. "A medida vai causar uma choradeira, mas as empresas têm tratamento diferenciado no Brasil. Elas ganham pela conectividade. Um passageiro pode vir da Europa para o Brasil e seguir pela mesma empresa para outros destinos no país. As estrangeiras precisam fazer acordos para distribuir os passageiros", afirma.

Liberalização

A agência argumenta ainda que o mercado doméstico representa a maior parte do faturamento das companhias nacionais. A proporção dos voos domésticos é de 70% no caso da TAM e de 90% para a Gol, segundo a agência.

O Brasil já conta com liberdade tarifária em voos para a América do Sul. Segundo Ronaldo Serôa da Motta, diretor da Anac, o impacto da liberalização em voos intercontinentais será maior. Além disso, o cenário de desaceleração da economia deve contribuir para levar as tarifas para baixo. "É natural que, quando acabar a estação de pico, em particular num ano em que vai haver redução de demanda, as empresas se tornem mais agressivas", afirma Motta.

Para o especialista em aviação André Castellini, da consultoria Bain & Company, a medida será boa para o consumidor no curto prazo, mas ruim no longo prazo. Segundo ele, a liberação tarifária pode levar ao sucateamento das empresas nacionais. "Tenho medo que aconteça o que ocorreu na Argentina, onde a indústria local deixou de existir. A Aerolíneas foi comprada por um grupo espanhol que tinha interesse secundário no mercado e não investiu na companhia."

Fonte: jornal Folha de S.Paulo

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