quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Clínica especializada cuida de quem tem medo de andar de avião

A fila do check-in avança, o coração bate mais forte. O ato de afivelar os cintos gela as mãos e o acelerar da decolagem dá início à contagem regressiva para o fim da vida. Pode soar dramático, mas sensação parecida é sentida por 42% dos brasileiros, que sofrem da chamada aerofobia, e tem atraído pessoas até do exterior para a clínica Medo de Avião, aberta pela psicóloga Elvira Gross em agosto do ano passado em São Paulo.

Sessões em grupo de pessoas com o mesmo medo, relaxamento, conversa com piloto e até passeio na área de manutenção de aviões em Congonhas são atrativos da clínica, que tem ajudado na superação da fobia. O fim do tratamento é comemorado pelo grupo com uma viagem aérea. A psicóloga vai a tiracolo.

Engana-se quem acha que esse medo é particularidade de passageiros de primeira viagem. Elvira, especializada em comportamento cognitivo pelo Hospital das Clínicas, em São Paulo, e atuante há dez anos no tratamento de fobias, conta que, nos primeiros meses da Medo de Avião, viu de tudo: executivos que chegaram a pedir para sair da aeronave enquanto ela ainda taxiava até gente que desistiu de um intercâmbio na última hora.

Os últimos acidentes aéreos no Brasil - voos 1907 da Gol e 3054 da TAM - contribuíram para o surgimento de aerofóbicos. Mas a boa notícia é que esse medo tem cura. Das cerca de 50 pessoas que participaram dos grupos da clínica Medo de Avião no último semestre, só uma não perdeu o medo. "Por muitos anos trabalhei com fobia de direção, mas muitos reclamavam do medo de avião. Como no Brasil não tínhamos quase nenhuma clínica especializada e pouca bibliografia, decidi me especializar."

Além do tratamento ‘de choque’, a programação neurolinguística e a psicoterapia também são caminhos que levam à superação do medo de avião. Elvira diz que o tratamento em grupo é importante para as pessoas perceberem que há outros na mesma situação. "Tem executivo, escritor famoso que tem vergonha de falar sobre isso, mas aqui ficam à vontade. Há casos extremos de gente que embarcou a bagagem, mas não conseguiu fazer a viagem."

Dados estatísticos que comprovam a segurança do avião e o entendimento dos procedimentos de voo atrelados a técnicas de redução de ansiedade garantem a confiança dos pacientes. "A gente faz uma espécie de viagem virtual em grupo. Além do voo em si, trabalhamos desde a compra da passagem, na noite anterior ao voo, até a caminhada pelo finger (passarela entre a sala de embarque e a porta do avião), que muitos chamam de ‘corredor da morte’."

Estes foram alguns dos argumentos que levaram Elvira a batalhar a autorização com a empresa Gol e a Infraero para que os pacientes transitassem na área de manutenção do aeroporto e até conversassem com o piloto dentro de um avião parado. Ao criar o site da clínica (www.medodeavião.com.br), a psicóloga teve de flexibilizar o formato do tratamento de dois meses, já que pessoas do interior, Rio e até de Recife a procuraram. "Recebi um e-mail do exterior de uma pessoa desesperada que não conseguia voltar ao Brasil. Não pude ajudar, mas a orientei a procurar uma terapia ou um médico", conta Elvira.

Programação neurolinguística ajuda a superar o medo

As linhas que trabalham a mudança comportamental, como a programação neurolinguística e até o tratamento nos moldes da clínica Medo de Avião, são apontadas como caminhos para superar a aerofobia, de acordo com Renata Machado, professora de psicologia do desenvolvimento da Universidade Presbiteriana Mackenzie, também em São Paulo.

Na prática, estes tratamentos reprogramam a atitude das pessoas em relação ao medo. "Temos medo do que não conhecemos. O ar não é nosso ambiente, nele ficamos sem controle, à mercê da sorte. E o avião continua sendo parte do nosso imaginário."

Renata ressalta que é importante que as pessoas com medo de voar se familiarizem com o funcionamento do avião. "Até conversar com o piloto é importante, para ver que ele é humano, tem família e não quer que nada dê errado."

O presidente da Sociedade Brasileira de Programação Neurolinguística, Gilberto Craidy Cury, já atendeu muitas pessoas com aerofobia. "A neurolinguística pode parecer mágica para os que perdem o medo, mas a razão é simples. Tudo o que o cérebro aprendeu, ele pode aprender de outra forma. O que ele pode construir também pode desmontar."

Contatos: http://www.pnl.com.br/ e http://www.mackenzie.br/ (clínica psicológica/atendimento grátis).

Manual de segurança

- Se você sentir muita ansiedade, peça para algum amigo ou parente viajar com você.

- Informe-se sobre aspectos técnicos do avião. Há muitas pessoas que se sentem seguras ao saber o modelo da aeronave, como funciona. Se possível, até conversar com o piloto antes da viagem pode dar mais segurança.

- Conheça todos os passos do seu embarque. Procure deixar as malas prontas no dia anterior para não ficar apavorado. Há muitas pessoas que encontram uma forma de perder o voo.

- Chegue ao aeroporto mais cedo para começar a se ambientar com cheiros, barulho, pessoas.

- Vista roupas leves em viagens longas e evite usar metal para não apitar no raio X, o que pode aumentar a ansiedade.

- Busque distração no aeroporto. Compre livros, visite as lojas.

- É importante distrair o pensamento porque muitos aerofóbicos têm a sensação de que estão nos ‘finalmentes’, prestes a morrer, quando vão ao aeroporto.

- Ao chegar ao avião, converse com as comissárias sobre o seu medo. Isso ajuda a relaxar. Quando a aeronave estiver estabilizada, levante-se, movimente os pés. Desfrute do serviço de bordo.

- Leia, ouça música. E lembre-se: barulho no voo é sinal de que o avião está funcionando.

- Aerofóbicos tendem a achar que qualquer barulho é sinal de que o avião está caindo.

Fonte: Agência Estado

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